Recebi uma newsletter do endereço www.barrigasebebes.com com um tema que achei muito interessante e além disso nunca pensei que fossem estes os números do nosso país. Vou deixar-vos a informação para que possam ler, parece-me bastante pertinente.
'A cesariana representa mais de 30% dos nascimentos em Portugal'
“É do conhecimento público que a forma de encarar a cesariana, evoluiu significativamente nos últimos vinte anos” …É assim que começa o prefácio do livro “A Cesariana” de Michel Odent, escrito pelo Prof. Jorge Branco. Mas será que é do conhecimento público os riscos.versus.benefícios desta forma cirúrgica de nascer? Será que existe no público, um sentido de reflexão sobre este assunto? Até que ponto o público conhece os factos, tem interesse em saber e participar numa decisão responsável e consciente sobre esta temática? Seguramente, não são públicas as taxas de cesariana de todos os hospitais portugueses: públicos e privados… Também não são públicos os critérios que definem a tomada de decisão para um nascimento por cesariana, nem os procedimentos de atendimento ao trabalho de parto e o parto, que possam ajudar a evitar o desfecho em uma cesariana. Pública é sem dúvida a ideia que se tem vindo a generalizar, de que nascer por meio de uma cesariana, é… NORMAL!!!! Temos assistido a um crescente aumento das taxas deste procedimento cirúrgico desde os anos 80, com uma passividade e naturalidade, tanto por parte dos profissionais de saúde, como por parte das grávidas e suas famílias, de uma forma inconcebível, numa sociedade desenvolvida e supostamente civilizada… Se bem que seja um fenómeno característico da sociedade ocidental e países desenvolvidos, como se explica que em 2006, a taxa de cesarianas tenha sido,
-de 22 % em Espanha
-de 23 % no Reino Unido
-de 19.6 % em França
-superior a 30 % em Portugal nos hospitais públicos
-superior a 65 % em Portugal nos hospitais privados,
quando se recomenda que essa taxa:
-se situe entre 10 a 15%, pela Organização Mundial de Saúde
-seja inferior a 30 %, segundo o Ministério da Saúde Português??
E porquê preocuparmo-nos com estes dados?
Simplesmente porque há riscos acrescidos numa cesariana, muito importantes para a saúde da Mãe, do bebé, e em futuras gravidezes, que não podem ser desvalorizadas, ocultadas ou ignoradas…
Os riscos de uma cesariana quando comparada com um parto vaginal, são os seguintes:
Riscos para a Mãe:
-Morte materna: 5 - 7 vezes superior
-Internamento em cuidados intensivos: 2 vezes superior
-Hemorragias importantes: 6 a 8 vezes superior
-Maior tempo de internamento
-Necessidade de voltar a ser internada: duas vezes superior
-Infecção e tomada de antibióticos: risco alto*
-Dor: risco muito alto*, para dor prolongada nos dias e semanas seguintes ao parto
-Complicações pós-operatórias: 1-5 % dos casos de cesariana
-Experiência negativa de nascimento: risco muito alto*. Alta probabilidade de não ter acompanhante no nascimento do filho, nem suporte emocional, nem sentir qualquer domínio sobre a situação
-Menor contacto imediato com o bebé, não poder vê-lo ou pegá-lo: risco muito alto*
Riscos para o bebé:
-Risco de morte: 1.77 por cada 1000 recém-nascidos, contra 0.62 por cada 1.000 recém-nascidos por via vaginal
-Corte cirúrgico acidental: risco alto*
-Problemas respiratórios: risco moderado a alto* (antes das 39 semanas)
-Possibilidade de não ser amamentado: risco alto a muito alto*
-Possibilidade de desenvolver asma em criança e / ou adulto: risco alto*
Riscos para a Mãe, em futuras gravidezes:
-Aumento da infertilidade: risco alto a muito alto*
-Fertilidade reduzida por opção da Mãe: risco alto*
-Aumento de gravidez ectópica: risco moderado*
-Aumento de problemas com a placenta (acreta, abrupta ou prévia): risco moderado*
-Ruptura uterina: risco moderado*
Riscos para o bebé, em futuras gravidezes:
-Morte antes do termo da gravidez: risco moderado*
Risco muito alto: 1.000-10.000 em cada 10.000 mães ou bebés
Risco alto: 100-999 em cada 10.000 mães ou bebés
Risco moderado: 10-99 em cada 10.000 mães ou bebés
Poderá o motivo de orgulho nacional: as baixas taxas de mortalidade e/ou morbilidade materna e infantil, justificar e validar a prática desta cirurgia obstétrica? NÃO!!! Simplesmente pela análise de riscos já descriminada, que inevitavelmente irão fazer subir as ditas taxas, pelas quais tanto lutámos ao longo destas décadas! O valor recomendado pela O.M.S. é precisamente encontrado, fazendo um rigoroso estudo do balanço risco-benefício, do nascimento cirúrgico, sendo apoiado por diversos estudos de outras entidades (ex.Althade and Belizán,2006**) Será possível reduzir as taxas de cesariana?Claro que sim! Até quanto, é que é mais difícil saber, bem como quem está verdadeiramente interessado em fazer um esforço por isso… O Plano Nacional de Saúde (lançado em 2004), estipula que até 2010, a taxa nacional seja reduzida para 20%. A Maternidade Dr. Alfredo da Costa conseguiu reduzir de 34 % em 2006, para 29.8% no 1º semestre de 2007¹, tendo implementado algumas estratégias para tentar reduzir mais esta taxa.
O Hospital de S. João pretende chegar aos 25 %¹ (conseguiu reduzir em 10%, esta taxa, de 2001 para 2002, e agora pretende reduzir mais 2.2%)Lamentavelmente o Presidente do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos e Director de Serviço de Obstetrícia do Hospital de Sta. Maria, Prof. Luis Graça, não acha “excessivamente importante a preocupação pela baixa ‘forçada’ do número de cesarianas”¹ e acredita que é possível baixar 2 a 3 %, o que situaria a nossa taxa nacional na ordem dos 30%... O que será necessário para baixar as taxas de cesariana?
-Divulgação dos riscos versus benefícios, baseados em estudos científicos publicados, a todos os profissionais de saúde
-Divulgação dos referidos riscos versus benefícios a toda a população, em especial às grávidas de uma forma esclarecedora
-Existência de um consentimento informado, compreendido e assinado pela grávida, quando se efectue este procedimento cirúrgico (de forma não emergente)
-Um acompanhamento da gravidez de baixo risco por parte dos profissionais de saúde, que promova com segurança e clareza, a via vaginal como primeira opção de parto
-Sistemas de controlo e auditoria interna nos hospitais (públicos e privados), que possibilitem que cada cirurgia seja discutida em equipa, chegando à conclusão clara de quais os critérios que justificam a cirurgia
-Uma mudança na forma como se encara o parto, ao nível do estudo da medicina, para que este volte a ser vivido como um processo fisiológico e não patológico. E para quê?
-Claro benefício para a saúde da Mãe e do bebé
-Claro benefício em gravidezes posteriores
-Melhoria na experiência de nascimento para a maioria das mulheres
-Melhoria na taxa de sucesso de amamentação e do primeiro contacto Mãe-bébé
-Diminuição dos custos associados ao procedimento cirúrgico, e pós-operatório
-Diminuição de todos os custos que advêm das possíveis complicação e riscos anteriormente descritos, para o sistema de saúde, e para as Mães/Famílias (internamento mais prolongado, cuidados intensivos, intervenções adicionais, medicação a curto e/ou médio-longo prazo, leite artificial, etc).
Num país com tanta dificuldade em gerir os seus recursos de assistência médica, com baixíssimas taxas de sucesso na amamentação e com graves dificuldades financeiras, esta situação dá que pensar… Vale a pena proporcionarmos um melhor começo de vida aos nossos filhos e à nossa sociedade, com mais saúde para as mulheres e para as crianças!
Marta Cruz
Vogal da direcção da Humpar- Associação Portuguesa para a Humanização do Parto “A Cesariana:operação de salvamento ou industria do nascimento”, de Michel Odent, Miosótis, Setembro de 2005¹“Pais & Filhos”, edição de Novembro de 2007, artigo: ‘Menos cesarianas, mais qualidade’,texto de MªJoão Amorim,pág-44-46
“Pais & Filhos”, edição de Janeiro de 2006, artigo: “Sai uma cesariana!”, texto de mªJoão Amorim, pág.13-16** Althabe F.,Belizán JF,Caeserean section:The paradox.The Lancet 2006:368:1472-3